História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje
Casa Bandeirista, um símbolo de Mauá
Quem hoje observa uma cidade pujante,
economicamente forte e diversificada, com uma população de quase meio milhão de
habitantes, indústrias diversas, serviços, poluição e trânsito caótico, fica
difícil imaginar que se trata da outrora bucólica e pacata Mauá, o antigo Pilar;
as fábricas de porcelana, o campo do Esporte Clube Cerâmica, a Concha
Acústica, o Jardim Japonês, a Escola da Paineira, as porteiras do centro, a
capela do Sertãozinho, as festas e bailes populares, o carnaval de rua e outros
símbolos e representações mauaenses deram lugar ao moderno. Para os moradores
mais antigos da cidade, ficaram apenas alguns exemplos de resistência, a
memória e a saudade de um tempo e de uma época que não volta mais.
Grande
parte desses patrimônios materiais e também os imateriais foram simplesmente
derrubados, banidos, excluídos e/ou apagados, seja em razão da especulação
imobiliária, dos interesses econômicos ou do descaso, mas suas memórias
permanecem vivas no imaginário daqueles que presenciaram sua existência. E os
poucos que sobreviveram, ainda hoje são ameaçados pelas mesmas razões elencadas
acima, representando além de símbolos da cidade, modelos e exemplos de
resistência política, econômica e cultural.
Origens e características técnicas
As
origens do casarão que desde 1982 abriga o Museu Barão de Mauá remontam o
início do século XVIII, sendo conforme observação de William Puntschart,
‘remanescente do período inicial da ocupação territorial de São Paulo e
considerado, segundo estudiosos da história da arquitetura, importante exemplar
de Casa Bandeirista ou colonial paulista’. Construída com um tipo de terra
argilosa socada entre pranchões e com paredes de até sessenta centímetros de
espessura, foi erigida numa técnica denominada de ‘taipa de pilão’.
A
casa bandeirista de Mauá encontra-se num seleto conjunto que compreende as mais
antigas edificações da região do ABC Paulista, sendo construída praticamente no
mesmo período da capela de Nossa Senhora do Pilar (atual Pilar Velho, em
Ribeirão Pires), considerada a mais velha. A capela foi erguida em 1714 e a
casa, que inclusive devido às suas características arquitetônicas situa-se
dentre as primeiras manifestações arquitetônicas brasileiras, surge nos
primeiros anos do século XVIII, conforme citado.
Antes sede da fazenda e pousada, hoje Museu Barão de Mauá
O prédio que abriga o Museu Barão de Mauá é uma edificação de incontestável valor histórico-cultural, um símbolo de representação da identidade local; desde antes da ferrovia, a partir dela e ainda hoje também, aquele espaço possui grande significado na formação de Mauá desde tempos imemoriais, marcando dessa maneira sua presença e testemunho no surgir da cidade e em seus processos de desenvolvimento.
Surgida em meio ao contexto da ocupação territorial da região pela metrópole portuguesa através da concessão de sesmarias, o casarão era sede de uma grande propriedade rural, no caso sede da Fazenda Bocaina. E como latifúndio, obedecia aos padrões escravistas da economia colonial, abrigando na época do tenente Francisco Barbosa Ortiz (seu primeiro proprietário) cerca de 35 escravos.
Em 1862, Irineu Evangelista de Souza, o ‘Barão de Mauá’ comprou do Capitão João a fazenda que abrigava o casarão; a aquisição dessa vasta quantidade de terras teve influência direta da instalação da estrada de ferro, empreendida por Irineu. As dificuldades para a construção da ferrovia exigiu em diversas oportunidades a presença do Barão de Mauá no canteiro de obras, levando-o a pousar algumas vezes no famoso casarão.
Após servir como sede da fazenda Bocaina e pousada do Barão de Mauá, a histórica casa-símbolo de Mauá foi desde moradia dos pioneiros moradores a sede de times de futebol como o Pilar FC e o Industrial; Em 1983 foi tombada como patrimônio pelo Condephaat estadual; antes, em novembro de 1982, fora transformada e batizada como ‘Museu Barão de Mauá’.
(*)
Jornalista e Historiador.
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Referências
bibliográficas:
MEDICI, Ademir. De Pilar a Mauá.
Prefeitura do Município de Mauá, 1986.
PUNTSCHART, William. Histórico
da Fazenda Bocaina. Prefeitura do Município de Mauá, 2000.
SALA, Dalton. Guia das Casas Bandeiristas. São Paulo: Laserprint, 2008.
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